Conto de cara: autonomia para os artistas e menor cobrança social são fatores essenciais para tornar o Bandcamp a melhor opção para a música hoje em dia. Mas antes de falar mais sobre isso, uma breve contextualização.
Vários sites/serviços/plataformas (chame como quiser) dedicados ao compartilhamento de músicas surgiram e sumiram do mapa nos anos 2000. Se é estranho pensar que o MySpace chegou a ser a maior rede social do mundo, o que dizer de sites menores como PureVolume, imeem ou Jamendo?
Características
Criado em 2008, o Bandcamp teve um futuro diferente de seus pares por investir em um modelo distinto. Em vez de sobreviver de anúncios ou assinaturas, seu plano de negócios se baseia na comissão sobre vendas. Ele é a fusão de diferentes serviços em um só. Tem a venda de mp3 que transformou o mercado através do iTunes; é uma rede social de música, assim como o MySpace; permite o compartilhamento de músicas através de players que podem ser incorporados facilmente em qualquer site, da mesma forma que o Soundcloud e Youtube; intermedia a venda de merchandising dos artistas; e possui uma ferramenta editorial, o Bandcamp Daily, que traz respaldo à comunidade do site.
Cobrança social
Além das características anteriores, há uma diferença fundamental no Bandcamp: o número de plays de cada música não é público. Apenas o artista sabe a quantidade de execuções que suas músicas tiveram. É exibido publicamente apenas o avatar das pessoas que compraram determinada música/álbum, sem especificar quaisquer números. Isso é importante porque altera a lógica comum das redes sociais, nas quais seu capital social é medido por números como quantidade de amigos, de curtidas ou, em casos como Youtube e Spotify, a quantidade de reproduções.
Ao eliminar esse fator, o Bandcamp opera em uma esfera de menor cobrança social. A quantidade de plays deixa de ser um elemento influenciador no processo de criação de valor da música. Pode parecer simples, mas acredite: faz muita diferença.
Em cada página do Youtube, Soundcloud ou Spotify os números apontam a popularidade daquela obra e representam uma moeda de valoração online. Uma música com poucas execuções pode até mesmo desestimular sua divulgação por parte do próprio artista, que deixaria explícito seu “fracasso” de forma pública. No entanto, o Spotify explora essa fraqueza. Na plataforma Spotify for Artists, é possível que artistas comparem seus desempenhos com os de outros artistas, estimulando a competição. No Bandcamp, esse fator competitivo perde relevância.
Selos
A forma como o Bandcamp funciona e seus recursos o transformaram em um ambiente propício para selos musicais. Utilizá-lo é uma maneira organizada e funcional de apresentar catálogos, vender produtos e músicas. O serviço de labels é pago (a partir de U$ 20 mensais) e é usado por alguns dos principais selos alternativos do mundo, como Sub Pop, Ninja Tune, Epitaph, Relapse, DFA e JagJaguwar (pense em um selo e é provável que ele tenha uma página no Bandcamp).
Apoio aos artistas
O isolamento social forçado em consequência do coronavírus reduziu drasticamente os rendimentos de artistas em todo mundo. Para apoiar os músicos nesse momento o Bandcamp teve uma iniciativa na qual abre mão de sua comissão durante um dia. Na primeira data da ação, em 20 de março, foram movimentados mais de U$4 milhões, segundo dados oficiais do serviço. A comissão sobre as vendas feitas no site deixará de ser cobrada também nos dias 1º de maio (data da publicação deste texto), 5 de junho e 3 de julho (a primeira sexta de cada mês, para ficar mais fácil de lembrar).
Muito boa essa explicação!