Aglomerações de pessoas serão um risco até que se crie uma vacina contra o Covid-19. A questão é um grande problema para o futuro das casas noturnas em todo o mundo, cujos negócios consistem justamente na aglomeração de pessoas. Fechadas na maioria das cidades, casas de shows e boates têm recorrido a uma série de ações para se manterem minimamente ativas e cobrirem os custos enquanto não podem reabrir. Entre as ações mais comuns estão transmissões ao vivo, vaquinhas online, venda de vouchers com descontos para consumo futuro e delivery de bebidas.

Ao analisar o mercado internacional e conversar com donos de casas noturnas no Brasil é possível perceber dois pontos que parecem ser consenso na área sobre o futuro da vida noturna: público reduzido e foco nas cenas locais.

Público reduzido

Mesmo quando houver abertura dos espaços de música ao vivo, assume-se que parte da população terá receio de frequentar espaços fechados e com muitas pessoas. Até um traje futurista foi pensado para viabilizar a socialização na vida noturna, apesar de parecer mais uma obra de ficção científica.

Na China, o governo permitiu a reabertura de boates de menor capacidade em algumas cidades a partir do fim de março. Casas de shows e boates maiores permaneceram fechadas. No Brasil, donos de casas de shows como Leo Moraes, da Autêntica (em BH), e Letícia Rezende, do Laboratório 96 (em Uberaba, interior de MG), acreditam que quando puderem voltar a funcionar, a capacidade das casas será bastante limitada, de 50% da quantidade de pessoas que podiam receber antigamente, ou até menos. Claudão Rocha, sócio da Obra, casa ativa há mais de 20 anos em BH, acredita que os governos locais estabelecerão o nível da redução da capacidade dos espaços.

A lotação reduzida é uma mudança prevista também para outras atividades que envolvem muitas pessoas, como restaurantes, cinemas e festivais. Algumas casas, como a Autêntica, pensam até em deixar mesas e cadeiras como mobiliário fixo quando voltarem a funcionar, de forma a estabelecer um distanciamento obrigatório entre as pessoas.

Nesse contexto, o aumento do preço dos ingressos é uma possibilidade, uma vez que menos público em shows e festas significa menos faturamento. Principalmente para as casas de pequeno e médio porte, a queda no faturamento leva ao segundo grande marco de mudança na cena musical: o foco nos artistas locais.

Destaque para a cena local pós-coronavírus

São vários os fatores que levam profissionais do meio musical a acreditar que os artistas locais acabarão sendo beneficiados em um cenário próximo. Os diferentes níveis de contaminação em cada país desestimularão voos internacionais, afetando diretamente artistas que circulam por vários países. Outra importante questão, a principal no caso de pequenas e médias casas, é a descapitalização decorrente do período de não-funcionamento. Sem dinheiro em caixa para contratar nomes mais conhecidos, caberá aos artistas locais manterem a programação dos espaços de música ao vivo.

É o que já se vê na China, onde DJs acostumados a fazer shows de abertura agora são as atrações principais nas boates. Para as pequenas e médias casas de shows, o mesmo deve acontecer em escala reduzida. Em vez de bandas do sudeste, maioria entre as que se destacam no meio independente, por exemplo, atrações locais serão destaque na reabertura. E com o público ávido por sair, beber e socializar após meses de quarentena, é possível que exista maior pré-disposição em conhecer novos artistas.

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