No documentário produzido pelo Spotify sobre o trap no Brasil, FBC comenta sobre o preconceito em relação ao funk dentro do movimento hip hop no início dos anos 2000. Ao longo dos últimos anos essa mistura tornou-se mais recorrente e é a base de Acima, EP gravado em parceria entre o belorizontino Vhoor (então com 19 anos) e o norte-americano Sango.
São apenas três músicas, 10 minutos no total, nas quais o característico grave arrastado do trap é complementado pelas batidas de funk, atabaques e synths usados como textura de fundo. As melodias são principalmente vocais, com a base musical essencialmente percussiva. Em “Fechado”, por exemplo, ouve-se apenas um discreto synth que se repete ao fundo, além dos beats e vozes.
É fácil ouvir “Mais do que nunca”, faixa de abertura, e imaginá-la angariando milhões de pessoas em um disco do Kanye West. Nela, vozes são processadas e utilizadas como instrumentos, a base trap se mistura com percussões orgânicas e uma ruptura a transforma na metade, seguindo por um rumo eletrônico.
Acima representa tanto estar além da negatividade como, em um sentido mais literal, a vida nos morros e comunidades periféricas (explícita na foto de capa). A partir da fusão com o funk Vhoor e Sango saem do lugar-comum do trap, um gênero jovem e já desgastado, marcado pela repetição. Produtor prolífico, Vhoor ainda lançou outros dois EPs (ou mixtapes) em 2019 (MPBEATS e Baile & Trill) e é um dos nomes promissores a se prestar atenção em 2020.
Vhoor e Sango _ Acima
Lançamento: março de 2019